Qual a sua vogal?

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Hoje eu me apaixonei. Não foi a primeira vista, demorou muito tempo para acontecer. Talvez, quem sabe, tenha acontecido até rápido demais, eu é que não quis, de forma alguma, aceitar. Hoje eu aceitei. Ele é gentil, gosta de me fazer sorrir mesmo quando todo o resto do mundo parece gostar de armar um circo para me fazer chorar. Ele é carismático, precisa ver o quão apaixonante é aquele sorriso dele. Ele é romântico, esses dias ele me mandou uma rosa, me deu escondido, ficou com medo da minha reação. Eu o assustei com o meu jeitão de ser, não o culpo, assusto até a mim mesma às vezes.
Esse cara surgiu na minha vida como um amigo, eu juro que nunca o imaginei como algo a mais. Acho que ele também não imaginava que fossemos ter algo a mais. Primeiro ele ganhou minha confiança, minha amizade, depois meu coração. Tem coisa melhor do que se apaixonar por uma das pessoas que te conhecem melhor? É como se você não precisasse esconder seus defeitos; ele sabe todos os meus e mesmo assim me ama. 
Esse cara faz minha vida um clichê de filme/livro água com açúcar. No fundo, todos gostamos da parte em que somos felizes para sempre. Não sei se será para sempre, mas a parte do "felizes" está perfeitamente adequada. Ele sorri pra mim e parece que todo o resto do mundo diminui. De repente, somos só nós dois, sentados na grama, olhando nos olhos do outro e, sem precisar falar uma única palavra, nos entendemos. 
Esse cara fez com que eu revisse todos os meus preconceitos. Algumas coisas nele, eu jurei nunca aceitar, nunca gostar. Só que... até que aquelas músicas que eu odiava não são tão ruins assim. Ele me fez gostar. Até que aquele cabelo que, antes, era tosco não me parece tão abominável mais. Até aquele chiclete de canela, horrível, intragável, fica com gosto de morango quando é misturado ao beijo dele.
Esse cara, meu, esse cara é perfeito. É perfeito e cheio de defeitos, mas eu consigo amar cada pequeno erro dele. Adoro como nos completamos, como corrigimos um ao outro sem parecer que estamos cobrando perfeição. A nossa perfeição é completamente diferente do que nos foi ensinado. Eu não sou linda, ele não é forte, mas algo dentro de nós parece acender toda vez que trocamos olhares.
Esse cara me faz bem, como nenhum outro conseguiu fazer. Ele é delicado, mas sabe me pegar pela cintura quando tem que fazer. Ele é amoroso, mas sabe dizer que estou errada, sabe me fazer ver que nem todas as minhas escolhas são as corretas, as melhores. Ele aceita quando piso no caminho errado e dou alguns passos. Ele me chama para voltar e mudar de caminho. Ele não me julga se eu aceitar que errei. Nem eu o julgo. 
Esse cara sorri pra mim e diz "querida, o mundo tá uma merda, mas uma hora melhora". Ele me abraça quando me olham estranho na rua por alguma roupa, alguma cor de cabelo, algo que não agrada a todos. E o abraço dele? É o melhor do mundo. 
Hoje eu acordei e não sabia o que fazer com tudo o que eu sentia. Parecia estranho amá-lo. Parecia errado. Só que estar sem ele também não parecia certo. É certo? É certo abrir mão de alguém assim? Alguém que te faz feliz da hora que você acorda até a hora que você vai dormir? Ele passa as mãos pelo meu cabelo e eu, que sempre odiei cafuné, chego a dormir. Hoje, quando eu acordei, queria tomar café forte, embora odiasse café. Queria despertar. 
Despertei. 
Larguei de lado todos os contos de fadas e encontrei com ele. 
Ele não é um conto de fadas, não é um príncipe encantando, nem eu sou princesa. Só que, em alguma parte do meu dia cheio de tarefas chatas, ele me completa. Esse amor não é paixão e eu agradeço por isso. A paixão eu deixei pra trás naquele copo de café forte que ainda está amargo na minha garganta. O amor ficou e eu pude comprovar que ele realmente é amor. Não farsa, imaginação, ilusão. É amor, na forma mais pura. Não é aquele amor de declarar com mil versos de músicas, mil textos, um flash mob no meio do shopping e um pedido de casamento no programa da Fátima Bernardes. É um amor simples, de morar junto e ser junto, mesmo quando estamos separados. 
Falei para ele que estava feliz. Ele sorriu. 
Falei para ele que não queria mudar nada.
Ele falou que queria mudar meu sobrenome. 
Brinquei de como aquilo era clichê, romântico, mas bobo, idiota até. 
"Minha idade mental é um pouco maior do que 14 anos, bebê, eu não acredito em diálogos perfeitinhos de tumblr.", eu disse. Ele revirou os olhos. 
Só que no fundo, eu queria mudar meu sobrenome. Na verdade, eu queria que a grama em que adorávamos ficar conversando fosse fora do nosso quintal. Eu queria que nossos dedos entrelaçados continuassem entrelaçados fora dos nossos muros. 
Juramos largar nossos próprios preconceitos. 
Saímos dos nossos muros, das nossas muralhas. 
Alvejaram-nos de olhares, algumas palavras afiadas, algumas acusações. 
Ele ainda queria que eu mudasse meu sobrenome, mas... Eu podia? 
Tentamos. 
Tentamos de novo. 
E vamos morrer tentando. 
Uma vogal nunca fez tanta diferença. 
"Vocês não podem casar". 
Mas eu poderia. 
Se o meu "ele" não fosse "ela". 


Esse texto é fictício. Eu não me apaixonei por uma mulher hoje. Mas com certeza outras mulheres se apaixonaram. E outros homens também. 

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