Prazer, vadia!

segunda-feira, 15 de abril de 2013


Sociedade machista. Cultura do estupro.


Há quem diga que isso não existe. E você? O que acha?



Se você é mulher, responda uma pergunta: Consegue andar na rua despreocupada? Suponhamos que não haja assaltantes nas ruas, todos foram presos, todos estão longe, nenhum vai te roubar. Você andaria despreocupada na rua? Se a sua resposta foi "sim", vamos repensar? Você está indo para uma festa, são oito da noite, a rua está deserta e o ponto de ônibus um pouco longe, sua maquiagem é preta, seu batom vermelho e seu vestido do tamanho que você gosta, com as pernas de fora. Você se sente segura? Outro lugar então. Você está indo trabalhar, são sete da manhã, o ponto de ônibus cheio, seu cabelo perfeitamente arrumado, a maquiagem básica, os olhos marcados por sombras em tons pastéis, o corpo elegante graças ao salto alto obrigatório, o seu perfume contagia o lugar. Você se sente segura? Sem ladrões, você poderia andar com o seu celular na mão, poderia tirar fotos sem se preocupar, mas isso te daria segurança?



A segurança não está em ter a certeza de que seus bens materiais estão a salvo. A questão é que mulher nenhuma anda pela rua sem olhar para os dois lados, mesmo que seja mão única, mesmo que seja uma rua sem saída e o muro esteja a poucos centímetros dela. Mulher anda segurando a bolsa que está apoiada no ombro e, no fundo, não é para evitar que ela caia no chão. Mulher passa horas experimentando roupas. Primeiro, veste as que não quer de jeito nenhum, só para ter certeza de que não quer. Lá para terceira mudança, ela coloca aquela roupa que a deixa maravilhosa, que a faz olhar no espelho e se reconhecer de primeira. Então sua expressão muda e ela troca de roupa rapidamente, não pode passar muito tempo sendo ela mesma, o mundo não aceitaria. Por fim, ela coloca aquela roupa que o marido, namorado, ficante, pai irão gostar. Elegante, mas não metida. Sexy, mas nunca vulgar. Afinal, qual o problema de ser vulgar em algumas partes do dia?



Aquela roupa que você jogou com raiva em cima da cama, pois não podia usar, embora quisesse mais do que tudo, é o que você é. O problema é que ensinaram para nós, mulheres, que devemos "nos dar ao respeito". Eu não me dou ao respeito. Está na hora de mudarmos esse pensamento de que a mulher tem que fazer o homem a respeitar. Homem tem que respeitar e ponto. Mulher tem que respeitar e ponto. Não é o tamanho do meu vestido que vai dar o direito de outra pessoa invadir o meu espaço, me dar uma cantada, falar alguma coisa que me agrida. A minha perna de fora não deve ser vista como um convite para sua mão passear por ela. Se eu nunca passei a mão em um homem sem camisa na rua, por que deveria me dar ao respeito? O respeito é que tem que ser dado para mim.



Quer saber? Eu também morro de calor nesse sol infernal do Rio de Janeiro. Não é justo que eu não possa sair com um short curto, uma blusa que deixe a barriga de fora. E menos justo ainda é que eu tenha que olhar para os dois lados numa rua de mão única só por que andar com o que eu gosto é pedir para ser assediada. É por isso que mulher não se sentiria segura em um mundo sem ladrões. A proteção dos bens materiais é uma mera desculpa para o medo que temos, todos os dias, de andar pelas ruas da nossa própria cidade. Será, afinal, que a rua é mais dos homens do que das mulheres? Você se sentiria ofendida se eu afirmasse que é mais dos homens do que das mulheres, certo? Só que não se sente ofendida quando falo que, se cantaram você na rua, foi por que a sua roupa estava dizendo que aquilo era permitido.



A rua é minha, sua, dele. A rua é o meio comum. Não é de ninguém, é de todos. Então, se eu saio na rua, eu estou na minha rua, eu posso deixar pele de fora. Posso mostrar, não posso? Então, há a cultura do estupro. Já chega de tentar culpar a vítima. Toda mulher já foi estuprada mentalmente graças a uma cultura que diz que sexo só tem que ser bom para o homem, que a mulher tem que ser submissa, maltratada, menosprezada.



A questão é que essa visão errada de "se dar ao respeito" é, muitas vezes, enfatizada pelas próprias mulheres. As mulheres são as primeiras a dizer, em alto e bom som, que vadia não é mulher de verdade. Vadia é aquela mulher que usa roupa curta, dança até o chão na noite, sabe o que quer e vai atrás daquilo. Vadia é aquela garota que deu em cima do seu namorado e você, toda ofendida, coloca a culpa nela, não nele. Vale lembrar que quem tem um compromisso com você é o seu namorado, não a vadia. E você xinga uma mulher de roupas curtas, que dança funk, que tem desejo, que é livre com sua vagina. Você a menospreza, a julga, a condena. Mulher-vadia, aquela que é criticada no facebook, aquela que não tem vergonha em dizer que gosta de sexo, aquela que se veste da forma que bem quer (lembra da roupa jogada com força na cama? Então, ela usa aquela roupa), aquela que é ela, não outra. Por que toda vez que você troca de roupa para agradar aos outros, ou evitar ser estuprada, você está abrindo mão do que você é para ser outra pessoa.



E, se ser vadia é ser livre, tenho orgulho de dizer que sou vadia!


0 comentários:

Postar um comentário